Abandonando a Vida Cibernética

 Já fazem meses que me sinto sobrecarregada com a internet, com a falsidade e as aparências enganosas nas redes sociais. Não que a modernidade seja algo inerentemente ruim, ela não é. Mas de que adianta viver uma vida idealizada e romantizada enquanto o mundo está cada vez pior? Enquanto nossas vidas só decaem, pois seguimos nesse precipício de ansiedade, depressão e medo que só se tornam mais fortes com o tempo. O problema talvez seja um pouco mais enraizado em mim, não sei. Só sei que eu já queria escapar disso há um tempo mesmo, acho que fazem meses, quase um ano, que eu tinha "anunciado" o fim do meu Instagram. Uma morte simbólica.

Mas logo depois desses anúncios, decidi voltar. Afinal, não valia a pena, depois de ter começado algo tão "único", tão eu. Só que no fim, não vale a pena mesmo é continuar. Começamos por um motivo bom, mas continuamos por uma necessidade contínua de afagos em nossas cabeças destruídas, comentários e curtidas elogiando-nos, quando nós mesmos sabemos que é insignificante e logo cairá no fluxo da internet, em um buraco sem fundo e sem saída. Sinceramente, quem viraliza e continua famoso, ou tinha dinheiro e tempo para se planejar muito bem, ou deu sorte. O melhor é ver os conteúdos em alta e perceber o quanto cada vez menos eles fazem sentido. Talvez seja porque queremos algo leve para nos desvirtuar dessa realidade deprimente e desesperançosa.

Tentei retornar e não me cobrar tanto, trazer algo único e não me importar com os algoritmos, mas agora que não me importo, parece-me mais uma perda de tempo continuar com redes sociais instaladas no meu celular, só perco tempo e compartilho com poucas pessoas algo que eu julgo bonito e causas que acho que valem a pena lutar. Mas a verdade é que muitas vezes, as pessoas não ligam. E está tudo bem. Eu sou insignificante e estou em paz com isso. Se um dia eu voltar, não será com um perfil pessoal ou relacionado às minhas artes propriamente ditas, e sim, algum projeto social ou ambiental, apenas. Eu gosto de ajudar as pessoas, e percebo que não preciso mais mentir para mim mesma, tentando alcançar o inalcansável.

Vou me focar com o que mais importa para mim agora: Felicidade. Relações duradouras. Viagens (depois da pandemia, claro). Viver o agora, não um futuro distante e muitas vezes inexistente. Aventuras.

De certa forma, a pandemia me fez ver o que realmente importa. São as pessoas a minha volta, minha integridade e saúde mental. Não uma habilidade dificílima de conquistar — ultimamente eu só desenhava por desenhar, para melhorar sem parar, nunca mais pela diversão e sensação de liberdade de antes —, uma rede social com uma versão idealizada de mim — onde a persona e o ego se digladiam —, incontáveis pensamentos e planejamentos jogados na vala e uma ansiedade paralisante.

Isso não é para mim. Eu quero liberdade, e sinto que tudo isso acaba me prendendo. Não são as redes sociais em si, mas minha própria necessidade por atenção e meu próprio e egocentrismo. Minhas cobranças e comparações com outras pessoas que aparentam estar melhores, vivendo o sonho. Mas nem elas tem uma vida perfeita, todos apenas mostram as partes belas da vida, na maioria das vezes. Como diria Clarice Lispector: "Liberdade é pouco, o que eu quero mesmo ainda não tem nome".

Eu quero viver no aqui e agora, ler, experenciar a vida de formas distintas, agir e não procrastinar, amar. E com essa pandemia, eu vi onde estava me metendo.

Por isso não escrevi nada nem anunciei nada dessa vez no Instagram sobre minha saída. É definitivo, e sei que poucos (ou ninguém) vai ler o que escrevi aqui. Esse blog mais se tornou uma ferramenta própria de autoexpressão do que qualquer outra coisa que eu havia planejado que fosse antes (uma ferramenta de marketing? kkkkk).

Talvez agora com mais tempo livre e menos ansiedade na mente e corpo, eu possa fazer coisas que sempre quis sem me preocupar com uma divulgação maluca, com fotos intermináveis para mostrar o quanto estou bem ou o quanto o projeto anda bem, e etc. Posso escrever um livro, posso trabalhar mais tranquilamente, posso ler um livro, ou posso fazer nada. Cabe a mim decidir, não a uma rotina criada falsamente e puramente pelos meus próprios medos e expectativas inaplicáveis.

Se eu publicar um livro, ele pode falhar, e se falhar, não há mal nenhum nisso. Estou aqui pelas experiências malucas que ainda vou passar nessa vida. Não para agradar aos outros, nunca mais. Além do mais, agora posso dar mais atenção a quem é querido para mim, com conversas mais profundas e por mais tempo, afinal, é extremamente importante fazer isso, pois eles podem estar aqui, e em um segundo, não mais. Foi isso que a pandemia me ensinou. A viver o aqui e o agora, aproveitar momentos simples da vida, me desprender de expectativas mortíferas e a demonstrar meus sentimentos às pessoas queridas a mim.

Atenciosamente, para eu mesma no futuro,
Jennifer Dias Silva.

Comentários

  1. Nunca um texto fez tanto sentido pra mim. Amava acompanhar suas artes no Instagram. Infelizmente esse mundo de redes sociais é pura pressão e falsidade. Pra mim acarreta muita ansiedade, mas ainda levo como um exercício para melhorar a fobia social.

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    1. Muito obrigada, mesmo. Fico feliz que gostou das artes! <3
      E me sinto bem melhor também por saber que não sou a única que pensa assim, que pelo menos esse texto faz sentido para você. E pois é, hoje em dia parece que as redes sociais estão cada vez mais massantes, pelo menos para mim. Muito conteúdo vazio e pouca coisa que me faz realmente pensar fora da caixa, parece que tudo é uma repetição do que já foi feito, mas não tem nem mudanças, é quase que literalmente a mesma coisa. kkkkk Acabou que sempre que eu ficava mais tempo por lá, minha ansiedade piorava de vez, e eu sentia que estava o tempo todo procrastinando. Acho que muitas pessoas também se sentem assim hoje em dia. Mas que bom que você consegue usar tudo isso pelo menos com uma forma positiva, já que está fazendo como um exercício ou treinamento para a fobia social, boa sorte, mesmo. Desejo toda sorte do mundo, porque fobia social é horrível mesmo. Tem dias que a gente tá bem, outros nem tanto, e até pegar comida com o motoboy é um sacrifício! Hehehe
      Agradeço o comentário, e boa sorte nos seus planos e na sua vida como um todo! <3

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